Aplicação de ozônio no tratamento de água e efluente industrial
Quando se fala em consumo de água no planeta, a agricultura está no topo da lista. Responsável por cerca de 70% da água doce utilizada globalmente, esse setor é, ao mesmo tempo, o que mais consome e desperdiça recursos hídricos. O paradoxo é evidente: enquanto buscamos soluções sustentáveis para enfrentar a escassez hídrica, a agricultura tradicional segue operando com práticas que, muitas vezes, ignoram a urgência da conservação.
No Brasil, a situação é ainda mais crítica. Segundo dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), aproximadamente 72% da água captada em território nacional vai para a irrigação. Isso significa que, de cada 10 litros de água utilizados, mais de 7 são direcionados para esse fim. No entanto, estima-se que entre 40% a 60% dessa água seja desperdiçada por má distribuição, evaporação ou infiltração inadequada.
Diante desse cenário, o reúso da água na agricultura surge como uma alternativa não apenas viável, mas essencial para a sustentabilidade da produção agrícola e para a segurança hídrica das próximas gerações.
O que é o reúso de água?
O reúso de água consiste no aproveitamento de águas residuais — provenientes de processos domésticos, industriais ou agrícolas — para fins específicos, após um tratamento adequado. No contexto agrícola, isso pode significar o uso de efluentes tratados para irrigação, fertirrigação, limpeza de equipamentos e outras aplicações no campo.
Mas como implementar o reúso de forma segura, eficiente e dentro dos parâmetros ambientais?
A seguir, destacamos as principais formas de reúso aplicadas à agricultura, com suas características e modos de implementação:
É o método mais comum e consolidado. Consiste na utilização de efluentes previamente tratados em Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), que passam por etapas físicas, químicas e biológicas para remover contaminantes. Após esse processo, a água é conduzida diretamente para uso agrícola.
Exemplo prático: irrigação de culturas como cana-de-açúcar, algodão, milho e pastagens.
Vantagens:
Redução do consumo de água potável.
Aporte de nutrientes orgânicos (como nitrogênio e fósforo), reduzindo o uso de fertilizantes
Nesse modelo, os efluentes tratados são infiltrados no solo ou lançados em corpos hídricos superficiais, com o objetivo de recarregar aquíferos subterrâneos ou represas. Posteriormente, essa água pode ser captada novamente para irrigação.
Desafio: exige um controle rigoroso da qualidade da água para evitar contaminações.
Águas cinzas são aquelas provenientes de chuveiros, pias e lavadoras, sem contato com excretas humanas. Após tratamento simples (filtragem, decantação e desinfecção), podem ser utilizadas na irrigação de pequenas lavouras, jardins e pomares.
Potencial de uso: ideal para pequenas propriedades, hortas familiares e agricultura urbana.
Setores como laticínios, frigoríficos e indústrias de alimentos geram efluentes com alto potencial de reúso após tratamento. Esses resíduos, muitas vezes ricos em matéria orgânica, podem ser aproveitados para fertirrigação em plantações não alimentícias ou destinadas à produção de biocombustíveis.
A adoção do reúso requer um planejamento técnico, legal e ambiental. Veja as principais etapas:
Caracterização da fonte de água residual
O primeiro passo é analisar a origem da água a ser reutilizada. É água cinza? Efluente doméstico? Industrial? Cada tipo exige um tipo de tratamento específico.
2. Tratamento adequado
O tratamento varia conforme o uso final. Para irrigação, é fundamental remover sólidos suspensos, patógenos e contaminantes químicos. Podem ser utilizados sistemas de:
Sedimentação e filtração
Tratamentos biológicos (lodos ativados, lagoas de estabilização)
Desinfecção (cloro, radiação UV ou ozônio)
3. Monitoramento da qualidade da água
A legislação brasileira (Resolução CONAMA 54/2005 e diretrizes da ANA) estabelece parâmetros como coliformes fecais, sólidos totais e DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) que devem ser atendidos para garantir segurança no uso agrícola.
4. Escolha das culturas adequadas
Algumas culturas são mais seguras para irrigação com água reutilizada, especialmente aquelas que não são consumidas cruas, como:
Cana-de-açúcar
Algodão
Eucalipto
Milho para ração
Culturas energéticas
5. Capacitação e conscientização
É fundamental treinar os trabalhadores rurais para manusear corretamente os sistemas de reúso e entender os riscos e benefícios da prática.
E onde entra o ozônio nesse processo?
O ozônio (O₃), um poderoso agente oxidante, tem ganhado destaque como tecnologia eficiente e sustentável no tratamento de águas residuais, inclusive na agricultura.
Desinfecção eficiente
O ozônio elimina até 99,9% de vírus, bactérias e protozoários, sem deixar resíduos químicos na água, ao contrário do cloro.
Degradação de poluentes orgânicos e micropoluentes
Com sua ação oxidante, o ozônio quebra moléculas complexas presentes nos efluentes, como pesticidas, hormônios e compostos farmacêuticos.
Melhoria na qualidade da água tratada
Além de remover odores e turbidez, o tratamento com ozônio eleva os padrões da água reutilizada a níveis mais altos de pureza.
Compatibilidade com sistemas agrícolas
A água ozonizada pode ser usada diretamente na irrigação, ajudando inclusive no controle de fungos e pragas nas lavouras, com menor uso de defensivos.
Segundo a ONU, até 2050 a demanda por água na agricultura poderá aumentar em 60% para alimentar a população crescente.
O Brasil possui apenas 1% de reúso de água tratado em seu volume total, segundo relatório da CNI (2023).
Um estudo da Embrapa (2022) demonstrou que propriedades rurais que adotaram reúso reduziram em até 40% os custos com irrigação e fertilizantes.
Ou seja, temos um enorme potencial ainda não aproveitado.
O reúso de água na agricultura não é apenas uma medida de economia: é um passo estratégico rumo à sustentabilidade, à produtividade inteligente e à segurança alimentar global. O desafio hídrico é real e crescente — e a solução está em nossas mãos.
Tecnologias como o uso de ozônio para o tratamento seguro e eficiente da água dão o tom de um novo paradigma agrícola, onde cada gota importa, cada inovação conta e cada escolha impacta o planeta.
Na Ozone Engenharia, acreditamos no poder da transformação tecnológica para criar um futuro mais verde, resiliente e produtivo. E você, vai reutilizar essa ideia?